Mais de duas centenas de pessoas assistiram no sábado à tarde, 27 de maio, em Soutosa, Moimenta da Beira, à cerimónia de lançamento mundial da reedição de “O Homem da Nave”, de Aquilino Ribeiro, uma edição nova que o mestre escreveu e publicou originalmente em 1954, dada agora à estampa com o patrocínio da Câmara Municipal de Moimenta da Beira em parceria com a Bertrand, a editora de sempre do escritor. A cerimónia realizou-se num espaço ao ar livre, entre cedros, pinheiros e carvalhos, e a capela do Senhor da Aflição, que dá nome ao lugar.
A apresentação do livro, com capa ilustrada por João Hogan, foi feita pelo geógrafo Álvaro Domingues, que também escreveu o prefácio. Do livro e da obra falaram também Henrique Monteiro, jornalista, ex-diretor do ‘Expresso’, e Aquilino Machado, neto do escritor. O diretor literário da Bertrand, Eduardo Boavida, e o presidente da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, José Eduardo Ferreira, que fez as honras à casa, elogiaram também a obra “ímpar” do mestre.
Entre o público que lotou a ‘sala’ improvisada estavam investigadores aquilinianos, professores, alunos, muitos autarcas, párocos e povo anónimo que nutre admiração pela obra de Aquilino Ribeiro.
No fim, houve tempo ainda para a apresentação de um 'Touriga Nacional' de 2011, tinto “Terras do Demo”, protagonizada por João Silva, presidente da direção da Cooperativa Agrícola do Távora, a estrutura de Moimenta da Beira que produz a afamada marca de vinhos e espumantes “Terras do Demo”.
Em “O Homem da Nave (Serranos, Caçadores e Fauna vária) ”, livro de crónicas da serra, Aquilino Ribeiro descreve o camponês serrano ardiloso, orgulhoso e batalhador, que segue os ritmos do ano e da terra, vivendo da caça (por vezes furtiva), do campo, dos pequenos episódios do dia a dia. Lê-lo é ser transportado para aqueles brejos e montes, para aquelas estações inclementes, para a sensualidade da serra a pulsar de vida em nosso redor e para os dramas e alegrias das pequenas aldeias do interior de Portugal.
O escritor publicou em vida 69 livros distribuídos por áreas tão diversas como a ficção, jornalismo, crónica, memórias, ensaio, estudos de etnologia e história, biografias, crítica literária, teatro, literatura infantil, polémicas a que nunca se furtava e traduções (às vezes muito livremente recriadas) do latim, grego, espanhol (o D. Quixote, por exemplo), francês e italiano. “Partilha com Fernando Pessoa, um lugar cimeiro nas Letras Portuguesas”, escreveu Óscar Lopes.
Aquilino Ribeiro nasceu a 13 de setembro de 1885 no concelho de Sernancelhe, freguesia de Carregal, e morreu em Lisboa a 27 de maio de 1963, num ano de muitas homenagens públicas a que com gosto assistia. Mas foi na ‘sua’ Soutosa, aldeia do concelho de Moimenta da Beira (onde está a sede a Fundação a que emprestou o nome), que viveu muito dos momentos mais intensos da vida, lugar que o inspirou para escrever alguns dos seus livros mais marcantes.