Escolheu desde sempre o caminho mais difícil. A sua história pública não começa com uma banda de garagem mas pelo Conservatório. Não começou por ganhar fama na música ligeira para se aventurar depois em projetos mais ousados. Fez ao contrário: aos 16 anos estudava Análise, Composição e História da Música com Álvaro Salazar e Jorge Peixinho na Escola de Música do Porto e, posteriormente, com Cândido Lima no Conservatório. Por essa altura integrava já o Grupo de Música Contemporânea de Madrid.
Entrou na música pela via erudita. E quando chegou ao jazz era um erudito a tocar jazz. Estudou e tocou com Todd Coolman, Joe Hunt, Wallace Rooney, Gerry Nyewood e Steve Brown. E depois com Adriano Aguiar e Alejandro Erlich Oliva, seus mestres de contrabaixo. Foram os anos do jazz. Participou em seminários internacionais, formou bandas, tocou em orquestras, realizou tournées. Colaborou com grandes figuras como Paul Motion, Bill Frisell, Joe Lovano, David Liebman, Billy Hart. Ensinou contrabaixo na escola do Hot Club de Lisboa, fundou a Escola de Jazz do Porto, a “Cool Jazz Orchestra”, a “Máquina do Som” e, finalmente, os “Bandemónio”, grupo integralmente constituído por alunos seus.
Começava a epopeia do primeiro álbum: “Viagens”, editado em 1994. Um disco de rock cheio de jazz e de vida. Pedro Abrunhosa sempre viajou. Pelos vários continentes da música, tal como pelo mundo, com uma Renault 4L em segunda mão ou à boleia, com uma mochila às costas. Ao contrário de muitos outros, o seu percurso musical foi do mais complexo ao mais simples, rumo à depuração da linguagem, com destino à essência das coisas. Quando chegou ao rock trazia a mochila cheia de História e de rigor. “Viagens”, com a parceria de Maceo Parker, o eterno companheiro de James Brown, atingiu marcas de vendas até então inéditas em Portugal. E assim prosseguiria com os trabalhos seguintes.
Pedro Abrunhosa comparecia finalmente ao encontro que parecia marcado há muito com as grandes audiências. Tinha algo para lhes dizer, e foi entendido. Esse pacto com as multidões nunca mais foi quebrado. Em 1995 lança o maxi-single “F” e em 1996 o álbum “Tempo”, que vendeu 80 mil exemplares em apenas uma semana. Em 1999 é lançado “Silêncio” e em 2002 “Momento”, o álbum triplo “Palco” em 2003, “Intimidade”, gravado ao vivo na inauguração da Casa da Música do Porto, em 2005, “Luz” em 2007. Fundador dos BoomStudios em 2005, é a partir deste espaço, ‘catedral de silêncio’ como o próprio o designa, que Pedro Abrunhosa centraliza os seus futuros trabalhos aos quais soma a função de editor.
2010 é ano de viragem. Reúne os “Comité Caviar”, alia-se ao produtor João Bessa e lança os álbuns “Longe”, “Contramão” em 2013 e “Espiritual” em 2019. Em todos, Pedro Abrunhosa deixa patente a sua poderosa escrita e neles deixa canções que se juntam a tantos outros hinos, lendas, adágios a que o Autor nos habituou desde sempre. Durante todo este período são milhares os concertos, recintos cheios, festivais, salas esgotadas, digressões que o levaram a todo mundo.
Multiplatinado em praticamente todos os discos, Pedro Abrunhosa foi distinguido com todos os prémios nacionais de relevância: três Globos de Ouro, Prémio Bordallo de Imprensa quatro Prémios Blitz, Medalha de Ouro de Mérito Cultural pela Autarquia da Gaia, Prémio SPA-Pedro Osório, quatro prémios Nova Era, Prémio Play Vodafone, Prémio Prestígio Nova Gente, Prémio Melhor Compositor RCL, Prémio Telemóvel de Ouro, Prémio Arco-Íris da Ilga, Rádio Alvor-Melhor Álbum Nacional, Distinção Rotary-Profissional do Ano e muitos outros.
Pedro Abrunhosa, viajante, escritor, homem de palco por excelência, é na estrada que se reencontra. Agora não leva a mochila nem vai sozinho. Na bagagem as Canções e, por companhia, o imenso público que arrasta.