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Povo de Vila Cova foi preso por defender terreno baldio

26 Nov a 15 Dez 2014
Há 50 anos o povo de Vila Cova de Caria, uma aldeia do concelho de Moimenta da Beira, foi preso pela GNR e levado a tribunal por estar a defender uma mata de pinheiros, um terreno baldio de 7 hectares registado em nome da diocese, que a Junta de Freguesia de então reivindicava para si. A contestação ficou conhecida como a “Revolução da Mata de Santo André” e a efeméride vai ser assinalada este domingo, 30 de novembro, com missa, festa e a inauguração de uma lápide a recordar a revolta popular.

Há 50 anos o povo de Vila Cova de Caria, uma aldeia do concelho de Moimenta da Beira, foi preso pela GNR e levado a tribunal por estar a defender uma mata de pinheiros, um terreno baldio de 7 hectares registado em nome da diocese, que a Junta de Freguesia de então reivindicava para si. A contestação ficou conhecida como a “Revolução da Mata de Santo André” e a efeméride vai ser assinalada este domingo, 30 de novembro, com missa, festa e a inauguração de uma lápide a recordar a revolta popular.

O caso passou-se em Janeiro de 1964 e arrastou-se por dois penosos anos no Tribunal de Moimenta da Beira. No fim, ninguém do povo foi condenado, nem mesmo os seis ‘cabecilhas’ da sublevação. A sentença da absolvição foi ditada pelo então juiz de Moimenta José Marques Vidal, antigo director nacional da PJ, hoje com 84 anos, e pai da actual Procuradora-Geral da República Joana Marques Vidal.

Mas durante o interrogatório conduzido pelo delegado do Procurador da República (não pelo juiz), conta uma testemunha viva que cinco dos homens detidos “passaram a noite presos com luzes viradas para os olhos e com o delegado a pedir-lhes que dissessem, a todo o custo, que a mata pertencia à Junta de Freguesia. Nenhum cedeu à pressão”.

Quem se lembra na aldeia daqueles dias de rebelião, fala deles com orgulho. “Povo unido como o de Vila Cova não há”, recorda Maria do Céu, 85 anos, viúva de António Julião, autor dos 54 versos que relatam em rima toda a insurreição popular. “Os sinos tocaram a rebate quando o povo soube que a Junta andava lá na mata a cortar pinheiros. Juntamo-nos todos e fomos impedir que aquilo continuasse. A mata é nossa, é do nosso Santo André”, lembra Maria do Céu que entoa de cor algumas das rimas escritas pelo marido: “Vila Cova cantai vitória / que a jornada foi triunfal / para glória da nossa história / menos de quem nos quer mal”.

Muitas das quadras são autos de fé dedicados a Santo André que, segundo o povo, por inspiração divina terá contribuído para o final feliz: “Milagroso Santo André / a tua alma é santa / já livraste o teu povo / de caminhar para Moimenta”.

“Ainda me lembro de ver o meu pai ser metido à força no jipe da GNR”, conta Maria José, que tinha então apenas 8 anos de idade, filha de Lúcio Pereira, o segundo homem do povo a ser preso pelos guardas.

Ao todo foram detidos para interrogatório 40 pessoas e 21 destas foram levadas para o posto da GNR. “Andava tudo em alvoroço. Só se viam jipes da GNR na aldeia e homens com machados às costas”, recorda Maria do Carmo, também filha de Lúcio Pereira.
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