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Presidente da Câmara Municipal entrevistado pelo Jornal Terras do Demo

30 Maio 2020
Jornal Terras do Demo; Gabinete de Comunicação CMMB

Dois meses depois de paragem forçada, causada pela pandemia de Covid-19, o jornal Terras do Demo, quinzenário de Moimenta da Beira, regressa às bancas, e, entre outras chamadas de 1ª página, dá destaque à entrevista concedida pelo Presidente da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, José Eduardo Ferreira. São cinco perguntas e cinco respostas, todas no contexto da atual crise pandémica que o país e o mundo vivem.

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Terras do Demo (TD) - Como se preparou o município para esta pandemia que apanhou toda a gente de surpresa?
Presidente da Câmara (PC) - Esta é uma situação completamente nova para toda a gente, tanto nas suas causas como nas suas consequências.
Não havia, e continua a não haver, nenhum guião, nem um manual de procedimentos que pudesse responder a todas as vastas e complexas questões que se foram colocando, muitas vezes a uma velocidade inusitada e vertiginosa.
A resposta às grandes dificuldades está sempre na união de esforços, de todos, caminhando num único sentido e com objetivos muito claros e muitos definidos, ainda que partindo não raramente de grandes dúvidas.
Temos o privilégio de contar com a confiança de todas as instituições, em que também confiamos muito, porque fomos construindo ao longo do tempo uma sociedade coesa e solidária, com respostas muito efetivas em situação de crise e de grande dificuldade.
Esta preparação das respostas sociais que fomos construindo e robustecendo foi, uma vez mais, essencial para o sucesso que temos tido em conjunto.
O Município de Moimenta da Beira procura sempre ajudar na coordenação dos meios que são de todos, com justiça e equidade, valorizando verdadeiramente o trabalho excecional que tem vindo a ser feito por um conjunto grande de entidades e pessoas, desde as ligadas à saúde, até às que trabalham na ação social, passando pela segurança e pelo socorro, tudo organizações onde existem verdadeiros heróis, como muito justamente têm sido apelidados.
Mas também é justo reconhecer uma cooperação permanente dos colaboradores municipais, que foram uma vez mais inexcedíveis nesta tarefa, e talvez o mais importante tenha sido mesmo a forma como o Povo, todo o nosso Povo, entendeu, assumiu e se comportou desde o primeiro momento, acatando as instruções, cumprindo as diretivas e aceitando um sacrifício grande pelo qual muitos ainda estão a passar, e que infelizmente se manterá durante pelo menos mais algum tempo.
Se houvesse algum segredo, o segredo teria sido a união.

TD - O concelho de Moimenta tem alguns casos confirmados. Como está a situação dessas pessoas?
PC - Até este momento tivemos a confirmação de 15 casos positivos de Covid-19. Temos muito respeito pelo estado de saúde de todos, e também pelas consequências que a doença tem para os familiares e amigos.
Creio que pior do que as consequências físicas da doença, podem ser os efeitos provocados pelas dúvidas inerentes a uma doença nova, que provocou certamente uma grande ansiedade a todos quantos com ela conviveram, mesmo que a maior distância.
Felizmente a esmagadora maioria dos casos confirmados dizem respeito a pessoas que estão já recuperadas e portanto fora de perigo, tanto quanto é possível fazer esta afirmação perante uma doença em relação à qual existe ainda um elevado grau de desconhecimento.

TD - Tem receio que a pandemia possa afetar economicamente o concelho de Moimenta, como: empresas, restauração e a própria agricultura?
PC - Sim, todas as atividades económicas estão a sofrer muito com esta pandemia, talvez mais umas do que outras, por enquanto, mas certamente todas sofrerão muito.
Muitas das nossas empresas são empresas familiares, em que da atividade económica diária depende o equilíbrio e até o sustento das famílias.
Ora, algumas dessas empresas têm estado simplesmente encerradas, não só não gerando qualquer rendimento como sendo obrigadas a suportar um conjunto significativo de custos.
Apesar de terem estado a ser elencadas um conjunto de medidas de impulso económico, parece-me que elas são claramente insuficientes e estão a ter dificuldades em chegar às empresas em tempo útil. Estamos a procurar juntar um pacote de apoio regional ao apoio nacional, e não está excluída a possibilidade de prestar apoios municipais, o mais direto que for possível, em complemento dos dois apoios que acabei de referir.
É muito importante que sejamos capazes de manter as nossas pequenas empresas em condições de retomarem a sua atividade quando a pandemia o permitir, mas temos que ter consciência da grande empreitada que temos pela frente.
É neste contexto que os apoios públicos são mais importantes para a economia, e está na hora de o Estado devolver um pouco do esforço que os cidadãos e as empresas fazem permanentemente.
Os que como eu acreditam num estado forte, têm agora que lhe exigir respostas, sob pena de poder parecer que têm razão os que acham que o Estado não serve para nada, e por vezes só atrapalha.
Esta pandemia é também uma prova de fogo para a visão política que defendemos. Não temos o direito de falhar, e não vamos falhar, nem em Moimenta da Beira, nem em Portugal, nem na Europa, ou poderíamos ter consequências inimagináveis.

TD - Está no seu último mandato como presidente da autarquia. Este foi o maior desafio que teve?
PC - Este foi um dos maiores desafios para toda a nossa população.
Não foi para mim maior do que para todos os outros, nem para a Câmara maior do que para todas as restantes instituições.
São todas credoras do meu grande respeito e admiração, pela forma como foram capazes de assumir tão grande dificuldade.
Se fosse possível escolher os momentos em que servimos, talvez eu pudesse escolher dois momentos difíceis para estar lado a lado com o meu Povo: a crise das dívidas soberanas, que teve implicações graves na economia e na vida das pessoas, e esta crise sanitária que é encarada por muitos como a que pode ter consequências mais devastadoras em termos sanitários, económicos e sociais.
Parece uma frase feita, mas vou escrevê-la, ainda assim: com um povo como este, nenhum desafio tem uma dimensão que não possa ser vencida.
É verdadeiramente desta forma que encaro este grave problema.

TD - Que mensagem quer deixar a todos os munícipes nesta altura inédita que estamos a viver?
PC - Quero deixar especialmente uma palavra de agradecimento a todos.
Aos que estiveram sempre na linha da frente, sem vacilar, desde os profissionais de saúde, aos bombeiros, à GNR, às IPSS’s, desde os seus dirigentes aos seus excelentes profissionais, e a todos os que mesmo na dúvida nunca deixaram de trabalhar, em vários domínios, para que pudéssemos manter o nível e uma qualidade de vida dignos.
Quero também deixar uma mensagem de esperança nas nossas capacidades individuais e coletivas, na nossa força de pessoas e entidades livres e solidárias. E quero deixar um apelo a que nos mantenhamos juntos por aquilo que é de todos e nos diz respeito a todos.
Podemos divergir, mas temos que o fazer de cara destapada e assumindo as nossas posições, de forma livre, democrática e empenhada. Quanto maiores forem as dificuldades mais temos que respeitar os valores que nos guiam, como Povo.
A pandemia não nos vai obrigar a deixar ninguém para trás, nem a prescindir de nenhum dos nossos valores essenciais, pelo contrário, vamos juntos até ao fim.

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